SHERLOCK GNOMES | Crítica

É um trocadilho simpático, porém mal explorado.

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Sete anos passaram desde Gnomeu e Julieta (2011), onde o amor de dois gnomos de jardim se sobrepôs à rivalidade das suas famílias. Agora, aproveitando as inúmeras possibilidades de trocadilhos com a palavra “gnomos”, estreia a sequela. Afasta-se a inspiração shakespeariana e abre-se espaço a Sir Arthur Conan Doyle, mais especificamente à personagem ficcional Sherlock Holmes.

Estando a realização novamente a cargo de John Stevenson, co-realizador de O Panda do Kung Fu (2008), o cenário do filme desloca-se para Londres. Neste pano de fundo, um vilão misterioso rapta os gnomos de jardim da cidade. Para os resgatar, Gnomeu e Julieta juntam-se ao arrogante Sherlock Gnomes e ao seu companheiro rejeitado, Watson. Pelo meio lideram os problemas conjugais e as piadas baratas. A moral, embora séria, apresenta-se sem complexidade intelectual ou riqueza emocional.

Juntando-se a uma multiplicidade de filmes de animação que chegam às salas de cinema nacionais, Sherlock Gnomes trata a capacidade crítica das crianças com indiferença. Digamos, não há obrigatoriedade em transmitir lições moralmente corretas nem em desenvolver a capacidade crítica do público infanto-juvenil. Todavia, quando essa procura é evidente, que aos mais jovens lhes seja confiada a possibilidade de construir o seu próprio julgamento. O filme de John Stevenson ensina o respeito, a humildade e a bondade. Ensina bons valores e fá-lo certamente melhor do que filmes como Um Susto de Família (2017). Falha apenas em conferir substância ao que pretende comunicar.

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Em termos de argumento, o filme não se decide. Pende entre o adorável e o sério e não consegue definir um rumo. Renderá melhor uma narrativa inocente e amorosa ou um enredo dramático com reviravoltas desconcertantes? O filme fica-se pelos dois e não se fica por nenhum. Porque o tom amoroso se esfuma em clichés e a ação se torna desconfortável quando um vilão choné orquestra um genocídio de gnomos.

A originalidade escapa-lhe, assim como decerto lhe escapa a atenção do espectador. Para os mais jovens poderá ser um entretenimento, mas pela movimentação e risos marotos na sala de cinema suponho que o interesse do filme esteja especialmente concentrado no gnomo de biquíni de nádegas a abanar. Por si só, isso diz muito sobre Sherlock Gnomes. Atentemos que este não é o único filme que recorre a uma caracterização de personagens do estilo. Até Entrelaçados (2010) da Disney dá relativo destaque a um velhote bêbado de fralda. Porém, contrariamente a Sherlock Gnomes, o filme de Byron Howard Nathan Greno tem um argumento sólido e enredo consistente, não fazendo desta personagem a muleta cómica da narrativa.

Sherlock Gnomes é um trocadilho simpático, porém mal explorado. A moral está gasta e por isso previsível e o argumento fica aquém de qualquer coisa que almeje ser.

 Que trocadilho farias com a palavra “gnomo”?