STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI | Crítica

Está longe de ser o melhor Star Wars.

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Sou fã incondicional desta saga. Tenho três posters, duas canecas, duas sweats, um quadro e um edredom da mesma no meu quarto. Dos primeiros filmes que tenho memória de ver é O Império Contra Ataca e deixou uma marca indelével na minha vida. Não obstante, o meu dever enquanto crítico é abster-me desta nostalgia e apontar tanto as virtudes como as falhas técnicas do novo episódio na história do clã Skywalker: Star Wars: Os Últimos Jedi.

Rey (Daisy Ridley) encontra Luke (Mark Hamill) e tenta perceber o que o levou à reclusão. No outro lado da galáxia os Rebeldes lutam para se manter vivos face à ameaça da Primeira Ordem. O filme abre com uma das cenas mais intensas da saga: acção e tensão a rebentar por todos os frames. Marca, funciona e dá o mote para o resto das duas horas e meia que se seguem: acção, acção, acção. Muito bem conduzida, é um facto, mas (quase) sempre com atenção nas intenções das personagens que a estão a conduzir. Poe Dameron (Oscar Isaac) tem aqui um papel muito preponderante, ainda que unidimensional: até ao terço final do filme não existe um único indício de desenvolvimento de personagem.

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Aliás, esta é uma das grandes falhas do argumento do realizador Rian Johnson (Looper – Reflexo Assassino): a história desenvolve-se através das batalhas e correrias que testemunhamos, não através da evolução das personagens que acompanhamos. Deixa-me aqui usar o adequado exemplo de RPG’s (até porque há uma runa directamente retirada de The Elder Scrolls IV: Oblivion bem visível em determinada cena). Digamos que cada indivíduo tem uma side quest para empreender antes de chegar à main quest. Possivelmente terá de encontrar um “objeto” qualquer para que consiga prosseguir. Mas existe um outro propósito para as side quests, que por vezes é esquecido pelo “jogador”, dado que acontece naturalmente ao tentar chegar ao seu destino final: aprender e ficar mais forte.

Em Star Wars: Os Últimos Jedi as personagens não aprendem nem ficam mais fortes com as “side quests”: permanecem exatamente as mesmas, chegando à “main quest” com nada mais que um amontoado de cenas de acção e, no caso de Rey, exposição que pouco ou nada acrescentam às suas personalidades (embora os atores nos tentem, esforçadamente, fazer acreditar no contrário). Resultado? Um amontoado de cenas sem peso que servem apenas para colocar todos os intervenientes na grande montanha russa final. Se já viste ou se ainda não viste aconselho o seguinte teste: imagina que o filme começa a partir do momento em que (alerta de mini-spoiler) Rey sai do planeta de Luke, sem que nada tenha acontecido entre este momento e o filme anterior. As acções dos protagonistas a partir daí seriam muito diferentes? Fica a questão: podes responder nos comentários.

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Fora isso, há um síndrome de Rogue One: Uma História de Star Wars em Star Wars: Os Últimos Jedi: personagens com aparições muito vagas, com as quais são utilizados artifícios muito claros para o público se relacionar com elas em pouco tempo. Se funciona contigo ou não é subjectivo. Comigo não funcionou, mas porque sou eu: a minha função é informar-te, não pensar como tu. Houve também (vários) momentos críticos em que determinadas reacções são enfatizadas apenas para gerar tensão, ficando-se por uma espécie de “vai fazer ou não vai fazer?”, deixando sempre essa escolha para outra pessoa. Cria tensão, mas retira o peso da escolha dos ombros dos nossos amigos: e, como diria o Dumbledore, “são as escolhas, mais do que as nossas habilidades, que mostram quem nós realmente somos”.

Em termos técnicos, Star Wars: Os Últimos Jedi não fica muito atrás de Star Wars: O Despertar da Força. Diria que a edição e fotografia das cenas de combate, aéreo e de sabres de luz, são mais fortes que no capítulo anterior e até do que em Rogue One: Uma História de Star Wars (sendo que aqui não existe nenhuma batalha de blasters que se equipare à da praia deste último). Nunca é demais exacerbar o valor de produção: não há um único frame que não esteja repleto de detalhe, beleza e ostentação. Peca sim pelos momentos de maior intimidade entre personagens e de exploração da galáxia, que parecem ser sempre um pouco mais descuidados, vagueando em tom (com piadas, por vezes, inoportunas) e escolhas duvidosas na edição.

Adam Driver (no papel de Kylo Ren), Daisy Ridley e Oscar Isaac são os destaques mais sólidos em termos de interpretação, sendo que Mark Hamill regressa em grande forma, com uma interpretação bem mais madura e ponderada do que nos filmes originais. Carrie Fisher, pela última vez na pele da princesa mais famosa da galáxia, ainda é capaz de conjurar alguns momentos de real emoção: muito graças a uma banda-sonora de John Williams muito melhor preparada que a do Episódio 7.

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Em termos de narrativa propriamente dita, há alguns desenlaces interessantes e que, à partida parecem menos óbvios (porque contradizem alguns paradigmas da saga), mas que, em segunda instância, são lógicos e fortalecem a importância dos protagonistas dentro da história. Outro elemento muito forte é o de perigo. Cada cena de acção parece pautada pela incerteza sobre a morte ou não de todas as personagens o que, lá está, confere AINDA MAIS tensão. Já que a Marvel também está sobre a alçada da Disney, por favor, aprendam.

Star Wars: Os Últimos Jedi está longe de ser o melhor Star Wars. São duas horas e meias divertidas, repletas de acção, perigo, consequências que se materializam lá para o final e um alargar de uma mitologia que a tantos apaixona. Os leitmotifs que remetem para o tal filme que vi sentado na cama dos meus pais numa tarde da SIC criaram um conflito interior: aceito a nostalgia como um ponto a favor ou esta repetição de pontos narrativos (que já se verificara em Star Wars: O Despertar da Força) é só um exercício preguiçoso dos criadores?

Não sei. E também não tenho de saber: a minha função é informar-te, não pensar como tu. Vai lá viajar até a uma galáxia muito, muito distante e descobre.

Qual é o filme da saga Star Wars de que gostas menos?