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Um filme genial sobre um génio. Inspirado na obra Max Perkins: Um Editor de Génios de A. Scott Berg, publicada em 1978, o realizador Michael Grandage construiu uma visão cinematograficamente romântica sobre uma história baseada em factos reais. Ambientada na época da Grande Depressão e decorada com uma bela banda-sonora, o filme acompanha a relação profissional e pessoal de Max Perkins com Thomas Wolfe.

Maxwell Perkins foi o editor que acreditou em Thomas Wolfe depois do escritor ter sido rejeitado por todas as editoras de Nova Iorque onde se havia dirigido. Maxwell Perkins foi o editor que presenteou o mundo com autores como F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, conhecidos por The Great Gatsby (1925) e The Sun Also Rises (1926), respectivamente. Privilegiando uma das possíveis interpretações do filme de Michael Grandage, Max foi o génio por detrás de génios.

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Curiosamente, o título original do filme é Genius, isto é, “Génio”. Enquanto da tradução portuguesa e do título da obra de A. Scott Berg se depreende, numa primeira instância, que a genialidade pertence aos autores editados por Perkins, a visão de Michael Grandage direcciona-nos para outro prisma. O real génio será o escritor ou o seu editor? A certa altura do filme, Perkins lamentava a Wolfe o medo sob o qual os editores vivem: “Estaremos realmente a tornar os livros melhores? Ou apenas a torná-los diferentes?”, questionava-se. Mas o trabalho de Perkins não se afastava da genialidade. Ele estudava cada obra, perscrutava cada capítulo, limava cada palavra… E fê-lo com dedicação às duas obras de Thomas WolfeLook Homeward, Angel (1929) Of Time and the River (1935).

A caracterização das personagens é exímia. Jude Law renasce no escritor Thomas Wolfe, um homem inconsequentemente romântico, extravagante em palavras e pensamentos. Um desempenho surpreendente, embora possa pender entre a excelência e o exagero. Com tanta facilidade o espectador se impressiona como se incomoda perante a sua interpretação exuberante. Colin Firth eleva Max Perkins, um homem calmo, ponderado e dono de uma racionalidade perturbante. O editor é pragmático, o escritor um sonhador. Mas é a disparidade de personalidades entre Wolfe e Perkins que mantém a chama do entusiasmo acessa. A diferença gera complementariedade. A constante insatisfação de Thomas Wolfe necessitava do pragmatismo de Max Perkins. No livro Max Perkins: Um Editor de Génios de A. Scott Berg, surge a seguinte passagem:

Max said little. His essential quality was always to say little, but by powerful empathy for writers and for books to draw out of them what they had it in them to say and to write.

Colin Firth encarnou esta descrição de forma exemplar e é-nos atirada à consciência uma realidade curiosa. Wolfe sentia as mais profundas e genuínas emoções através da escrita mas era incapaz de as experienciar em contexto real. A sua mente vagueava sobre ideias fantásticas e palavras belas para as adornar, mas o seu coração era pedra perante o mundo. Wolfe era um homem insensível, iludido com a ideia de viver na plenitude. “Existem outras formas de viver, Tom…” alertava Perkins. Ambos apaixonados pelas palavras, viviam a sua paixão de maneiras diferentes, e assim se formava um nó bem apertado na garganta do espectador.

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É realmente curioso, porém, como esta atitude distante e fria é partilhada não só pelas personagens principais mas também pelas secundárias, ainda que não o demonstrem de igual modo. Aline (Nicole Kidman), a companheira de Tom, era, assim como ele, fervorosa nas suas ações. Todavia, enquanto o escritor tinha uma paixão arrebatadora pelas palavras, Aline nutria essa obsessão por ele. Eram ambos insensíveis a tudo o resto. Em Louise (Laura Linney), mulher de Max Perkins, imperava uma postura reta e ponderada, semelhante à do editor. Um Editor de Génios parece ser pincelado com nuances invernais, espelhando uma bomba emocional através de um invólucro de frieza. Não obstante, também é cuidadosamente decorado com tons quentes de Outono, daí fruindo poesia visual.

Um Editor de Génios conta com interpretações fantásticas, justificadas pela excelente escolha do elenco.

Apesar de alguma estranheza quanto à escolha dos protagonistas, dois atores britânicos a interpretar personalidades americanas, Um Editor de Génios conta com interpretações fantásticas, justificadas pela excelente eleição do elenco. É igualmente evidente o argumento brilhante de John Logan, um dos argumentista de Gladiador (2000), de Ridley Scott, a belíssima banda-sonora de Adam Cork, bem enquadrada na atmosfera e contexto histórico do filme. Com efeito, o Jazz é um dos estilos musicais com destaque no decorrer da história. Na época da Grande Depressão, onde se ambienta o filme, o swing (estilo de Jazz) tornou-se popular entre o povo, animando-o num período de sérias dificuldades. Este e outros detalhes de cariz histórico embelezam a obra na sua totalidade.

Por fim, para rematar, o simbolismo associado ao chapéu de Max Perkins é algo de extraordinário. Só existe um único momento no filme no qual o editor tira o chapéu e o pousa sobre a mesa. O único momento em que o espectador conhece a faceta frágil do editor. O único momento em que Perkins se separa da sua postura serena e racional para se banhar no orgulho e carinho amargurado pela perda. O chapéu, compreendemos, simboliza a sua postura perante a vida, racional, cobrindo-lhe o lado emocional. O ato de retirar o chapéu é uma metáfora para a atitude de revelação de uma fragilidade até então desconhecida pelo espectador. E assim se descobre o real génio.

Um Editor de Génios é francamente genial.

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