NO FIM DO MAR | Crítica

Um poema sem narrativa.

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Em parceria com o Shortcutz Faro, o Cubo Geek faz críticas às curtas-metragens apresentadas a concurso. Esta é uma crítica à curta-metragem No Fim do Mar, com realização e argumento de João Monteiro.

Confesso que não percebi No Fim do Mar. No entanto sou defensor que não temos de perceber a arte. Ela é o que é e não tem de ser percebida. Pode ser desconcertante, provocadora, enigmática e indecifrável. Acontece que para mim este filme foi monótono e sem um fio de coerência, apesar de se apresentar como um livro dividido em capítulos.

Não tenho medo de dizer o que penso acerca de filmes que me aborrecem, independentemente da mestria atribuída aos seus argumentistas e realizadores. Por exemplo, cheguei a adormecer durante um visionamento de um filme do “mestre” Manoel de Oliveira. Para a maioria dos críticos, uma obra prima, para mim, um excelente ansiolítico. O silêncio pode ser poderoso quando dele emanam palavras com um sentido, que podem ser ensurdecedoras mesmo quando suspiradas. O filme de João Monteiro é como um poema em que não há uma narrativa construída mas um quebra-cabeças que não tive a capacidade de decifrar.

No Fim do Mar (2018)

No fim do mar um homem caminha descalço, desprotegido. Na sua viagem ele vê a terra, a água um sonho e o vazio.

Publicado por No Fim do Mar em Sábado, 6 de Janeiro de 2018

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O mar tem tantos significados para o povo português – os Descobrimentos e a coragem dos navegadores, a pesca e o sacrifício dos pescadores, o turismo e as oportunidades para um país plantado à beira-mar. O regresso do protagonista é feito a partir do mar. De onde vem? Para onde vai? A voz do narrador acompanha o seu percurso com pequenas frases, sem permitir um vislumbre dentro da neblina cerrada deste argumento. Vi o filme duas vezes para estar certo de que não estava a ser precipitado nas minhas conclusões. Ao fim da segunda visualização não encontrei nem o fim do mar nem um caminho de regresso. Apenas fiquei prisioneiro da minha primeira impressão.

A minha parte favorita são os créditos finais, com música composta pelo realizador, um piano a tocar envolvido pelo som do mar. Será música o que existe no fim do mar?