A VIDA EM ESPERA | Crítica

Uma metáfora sobre como a vida não espera por nós.

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Por Catarina Gil escritor/a em SOMOSGEEKS.PT
Fascinada pela magia do cinema de animação e admiradora dos filmes de Hayao Miyazaki. O seu percurso pessoal e académico...

Wakefield, em português A Vida em Espera, é um drama realizado por Robin Swicord, adaptado do romance com o mesmo nome do novelista Edgar Lawrence Doctorow, publicado em 2008.

O filme relembra o caso reportado pelo jornal Público na recente entrevista “O mais solitário entre os homens”, sobre um homem que viveu 27 anos afastado da civilização. Podemos ainda recordar Christopher McCandless, cuja vida foi transposta para o livro Into the Wild em 1996 pelo jornalista Jon Krakauer e, mais tarde, adaptado para cinema por Sean Penn numa longa-metragem com o mesmo título.

Howard Wakefield é uma personagem fictícia, contrariamente às personalidades anteriormente referidas, mas com elas partilha uma característica: a sua fuga e libertação da sociedade. Wakefield fá-lo, porém, num ambiente mais próximo de casa do que se possa imaginar. A história revela-se inusitada efectivamente por tal deserção nunca se concretizar para lá do sótão da casa do protagonista. Into the Attic, seria o caso.

A história inicia-se com o regresso de Howard Wakefield a casa após um dia de trabalho. Porém, antes de abrir a porta, um texugo impele-o a subir até ao sótão. Será nessa pequena divisão que o protagonista decide permanecer o tempo suficiente para encher a esposa de preocupação. Uma discussão na noite passada é o motivo principal da brincadeira em tom de vingança. Contudo, o plano não corre exactamente como desejado e tal imprevisto fá-lo tomar uma série de decisões decisivas para o que viriam a ser os próximos meses da sua vida.

A Vida em Espera é o episódio da vida de um homem cujas acções se prolongam ao ponto de o incapacitar de tomar decisões. Torna-se um fantasma, prisioneiro das suas escolhas, das suas indecisões, das suas crises e da visão da sua própria vida. Poderia pensar-se que Bryan Cranston interpreta um indivíduo com aversão ao estilo de vida capitalista, um aventureiro em busca da comunhão com a natureza ou até um sádico em processo de redenção… Mas não representa nenhum deles, pois em todos eles existe um propósito e Wakefield não o tem. Wakefield vagueia sem rumo pelas memórias da sua vida. Poderia aproximar-se mais, todavia, do sádico em redenção. Porquê? Howard mantém-se durante meses a assistir ao sofrimento da família pela janela, inerte, enquanto se recorda dos seus pecados e se apaixona novamente pela mulher.

A esposa é Jennifer Garner, vestindo neste filme um papel exigente em termos de linguagem corporal. Esta é uma personagem vista maioritariamente através da janela de um sótão, daí ter de incorporar uma panóplia de emoções somente através de gestos, expressões, postura e afins. Efectivamente, todos além de Cranston parecem personagens de um filme mudo a que Wakefield assiste regularmente. Ainda assim a actriz consegue presentear-nos com uma agradável e credível interpretação.

A Vida em Espera, a determinado ponto, parece essencialmente uma história sobre a cobardia de um homem em crise. Um homem com vontade de fugir mas sem capacidade para o fazer. Por esse motivo acomoda-se no limite entre ambos. A janela do sótão é, durante o decorrer da narrativa, uma espécie de janela para o mundo, o seu mundo. Embora Wakefield se afaste da sociedade e da sua rotina, aquela abertura permite-lhe nunca estar realmente só mas desfrutar da solidão. No entanto, Bryan Cranston complementa esta ideia ao atribuir uma bonita carga de humanismo à sua personagem. Acima de tudo, Wakefield é um Homem “vítima” do seu contexto.

O filme convida-nos a reflectir sobre a leviandade dos hábitos modernos, a insatisfação do ser humano, a inocência… Mas apesar das eventuais reflexões filosóficas a retirar d’A Vida em Espera, a história é algo superficial e não se aventura pelas profundezas da mente humana. É um filme envolvente mas pouco fascinante.

Alguma vez tiveste vontade de colocar a tua vida em espera?

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COMENTÁRIOS
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2 COMENTÁRIOS

  1. Quando vocês colocam: “É um filme envolvente mas pouco fascinante.” então aí expressa-se a sua opinião, correto? Sua resenha paira sob o teor descritivo do filme, citando partes do filme, sem estragar a experiência de realmente vê-lo, e argumentando sobre o filme. Uma ótima resenha descritiva. O problema aqui é que em nenhum momento anterior o leitor experienciou um toque argumentativo, deixando-os assim sem realmente saber como lidar com, digamos assim, “uma bomba opinativa” dessas. Não me levem à mal, expressar-se é notável, quando se trata de uma crítica cinemática, mesmo que esse não seja o caso, a questão é a superficialidade da colocação. Assim, se vai adicionar uma opinião pessoal, certifique-se de que há embasamento e que não seja, rudemente falando, “uma leitura de piscar de olhos”. Vão atrás, expliquem o porque ser envolvente, porque não ser fascinante, porque se chegou à essa conclusão e assim sucessivamente. Um ótimo trabalho no entanto. Boa sorte com futuros projetos!

    • Muito obrigada pela tua crítica sincera e construtiva! 🙂 Estamos sempre a aprender, a melhorar e a crescer. Terei em conta as tuas palavras em críticas futuras. Obrigada uma vez mais e até breve!

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