Crítica | Assassin’s Creed

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Por João Ferreira escritor/a em SOMOSGEEKS.PT
Aprendiz de historiador e geek. Vivo numa toca de livros e dvd's. O meu habitat natural são bibliotecas, livrarias e...

As expectativas estavam muito elevadas, mas Assassin’s Creed demonstrou ser mais um ataque da maldição das adaptações de videojogos que dão maus filmes. Maldição que se iniciou com o péssimo Super Mário (1993), manteve-se com os terríficos Street Fighter – A Batalha Final (1994) e Combate Mortal (1995), e mais recentemente surgiu em Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016).

Iniciamos logo com duas introduções, uma em texto e outra em imagem, que nos permite perceber de imediato que os heróis do filme são os Assassinos que protegem a maçã de Adão, um artefacto antigo que contém a genética do livre arbítrio da Humanidade, e os vilões são os tenebrosos Templários. Faltou apenas explicar como ainda existiam templários em 1492 ou hoje em dia… a Ordem foi dissolvida em 1307 (as sexta-feiras 13 são aziagas precisamente por ter sido numa sexta-feira 13 que os templários foram presos). Sobreviveram como ordem secreta?

Nunca nos é explicado ao longo do filme. Esta e outras dúvidas, incongruências e questões sem sentido surgem ao longo da história sem a devida explicação ou organização. Muitas delas podem possivelmente ser respondidas pelos videojogos. Todavia, o filme tem a obrigação de se valer por si mesmo, procurando uma ordem e lógica interna sem necessitar da obrigatória consulta de outros elementos para a explanação de partes pertinentes do enredo.

A história de Assassin’s Creed decorre a dois tempos. A actualidade em que a Ordem dos Templários continua a sua busca pela maçã de Adão para acabar com o livre arbítrio da Humanidade e assim conduzi-la a um tempo de paz e estabilidade. Devido à investigação cientifica lideradas por Alan Rikkin (Jeremy Irons) e pela sua filha Sophia (Marion Cottilard), os Templários conseguiram encontrar forma de olhar para o passado. Para o conseguirem utilizam a memória genética dos descendentes dos antigos Assassinos. Aqui entra Callum Lynch (Michael Fassbender) um homem condenado à morte, por um crime sobre o qual nada sabemos, além de que assassinou um proxenta.

Cenas de acção espectaculares, pancadaria com fartura e umas boas imagens não são suficientes para transformar Assassin’s Creed num bom filme.

Lynch é resgatado por Sophia, pois é descendente directo de Aguilar (extraordinariamente desempenhado por Michael Fassbender, porque normalmente nós somos fisicamente iguais aos nossos antepassados…), último Assassino que teve na sua posse a maçã de Adão e sabe onde ela está escondida. Através das memórias genéticas de Lynch somos transportados para a Espanha de 1492, com as forças cristãs a apertarem o cerco a Granada, último reduto dos muçulmanos na Península Ibérica e cujo sultão tem na sua posse, sabe-se lá como, a maçã. Ao longo dos dois tempos os Assassinos fazem frente aos Templários, que têm óbvias falhas de segurança para uma organização secreta que enclausurou elementos perigosíssimos da sociedade, até ao derradeiro final que pouco encerra e deixa tudo em aberto para as futuras sequelas.

Depois de Macbeth, o realizador Justin Kurzel traz-nos este decepcionante Assassin’s Creed. Ao longo do filme é clara a grande capacidade de criar cenas de acção e utilização da câmara lenta do realizador australiano, além da mestria da fotografia de Adam Arkapaw (que colaborou com Kurzel em Macbeth e é responsável pela fotografia do belíssimo e ainda quentinho A Luz Entre Dois Oceanos). A arte de Arkapaw cria momentos visuais muito estimulantes. A estes junta-se ainda o outro irmão KurzelJed (que também compôs a trilha de Macbeth e futuramente poderemos ouvi-lo no aguardado Alien: The Convenant), responsável pela banda sonora capaz de alguns bons momentos musicais, mas por vezes excessivo na tentativa de agradar ao público invés de se adaptar ao enredo.

Quando colocamos bons actores a fazer qualquer papel, por muito mau ou desconexo que seja, eles fazem sempre um trabalho competente, mas não um trabalho extraordinário. O elenco de Assassin’s Creed é verdadeiramente luxuoso na qualidade. Michael Fassbender tenta dar o seu melhor como Lynch, mas o papel parece escapar-lhe por entre os dedos e é incapaz de esconder as incongruências do argumento, sobretudo a transformação de Lynch de anti-herói em herói pleno. O mesmo sucede com Marion Cotillard, pois nem o facto de ter um Oscar lhe foi suficiente para tentar dar a volta ao texto em que a perversão da sua personagem é incompreensível.

Jeremy Irons dá sempre um toque de classe a qualquer filme e já provou ser um extraordinário vilão, lembremos de Die Hard: A Vingança em que desempenhava o papel do organizado Simon Peter Gruber, mas o mesmo não sucede agora. As características manipuladoras e maquiavélicas da personagem pouco se percebem. A breve aparição de Brendan Gleeson, um actor extraordinário, limita-se apenas a cumprir o enredo e nada faz além de olhar por uma janela num cenário onde está completamente deslocado. No seu conjunto, as personagens não conseguem criar empatia com o público, por isso as suas derrotas, vitórias, desafios ou mortes não criam qualquer impacto em nós.

Assassin’s Creed é essencialmente um filme baseado em piruetas e pinotes com cenas de acção espectaculares, capazes de fazer as delícias de qualquer fã do género, com efeitos especiais muito bem conseguidos e visualmente muito estimulante. Mas é somente isso. O argumento é pobre e por vezes é mesmo sem sentido. A transformação das personagens é incompreensível e são incapazes de criar a necessária empatia com quem assiste. Estamos mais uma vez diante de uma oportunidade perdida de se transformar um videojogo fantástico num grande filme. As expectativas demasiado elevadas devido aos nomes envolvidos e à legião de fãs da saga alicerçam ainda mais a desilusão causada. Porém, provavelmente o filme será um êxito de bilheteira e são deixadas pistas suficientes para as prometidas sequelas.

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3 COMENTÁRIOS

  1. Eu só não concordo com o João numa coisa: acho que nem as representações se safam aqui. Muito, muito fraco. E a narrativa então…miserável!

  2. O filme não é assim tão mau como dizes. Ya não é nenhuma obra prima, e o espanhol do Michael Fassbender é sofrível, mas até que gostei e fiquei interessado em ver a continuação. Definitivamente é um sólido Está Quase Lá.

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